Reflexões de um psicomotricista

Uma visão do processo terapêutico e as suas implicações

A internet é uma cena que a nós não nos assiste!

“É preciso parar de encarar a Internet como uma rede de computadores. Ela é uma rede de pessoas.” D. Siegel

O Guedes saiu da frente e, assim, nasceu mais um fenómeno cibernético. Na verdadeira second life que anima e agita os mais jovens (e também os graúdos), a internet assume-se como a descoberta que, provavelmente, terá mudado o século e lançado desafios curiosos e emergentes a educadores, professores, técnicos e sobretudo, em dose maciça, a pais.

Da mesma forma que o “homem do skate” atravessa a estrada a uma velocidade considerável, a informação e o contacto com os outros no mundo cibernético decorre no imediato, na obrigação do sentimento de estar o”, de ser parte do que outros são, de se mostrar quem se é ou quer ser (mesmo que transitoriamente), porque na verdade, em cima do skate teclado/telemóvel, pode-se ser tudo…sem consequências, sem limitações. Portanto, muitas são as vezes em que se perde o controlo, caindo tal como o Hélio do skate, rebolando no chão de acções que parecem não ter sido cometidas, de compromissos que pareciam imagens digitalizadas de uma realidade distante, mas que acompanham o presente do que se pode tornar uma adição perigosa, uma ocupação demasiado absorvente.

Hoje, os pais lidam com este desafio gigante de entrar num mundo que, à grande maioria “não lhes assiste”, que com frequência demonizam as suas características e minimizam os seus efeitos, positivos ou negativos. Na descoberta deste manancial de potencialidades que a evolução tecnológica nos dá, falta uma componente cognitiva da atitude parental, que faça acreditar na influência que o viajar cibernético tem na vida dos jovens que têm em casa. ”Ele entretém-se para ali a jogar”, “ ela só conversa com as amigas” ou, no pior dos casos, “ele nem sabe mexer naquilo” são expressões usuais do afastamento intencional ou fortuito de pais que fazem como o Guedes e saem da frente, afastam-se até ao ponto de ruptura, em que uma educação na utilização da internet (uma descoberta partilhada?) é mais complexa, pois nesta fase, não se detém apenas num processo de estruturação mas de desconstrução de más práticas instituídas…

Depois, vem o depois…quando se perde o controlo e emerge a responsabilidade de agir, valoriza-se como castigo frequente, a privação desenfreada no acesso ao material tecnológico, que resulta numa acção infrutífera, pois se há coisa que está em (quase) todo o lado é a possibilidade de acesso rápido e facilitado à internet – o problema não fica resolvido, apenas se afastam as causas de casa, de uma maior possibilidade de conhecimento e controlo por parte dos pais.

As necessidades de mudanças neste capítulo mostram como o caminho é longo e implica um repensar na importância e preponderância que esta realidade tem nas questões da parentalidade, na urgência de um percurso curricular que valorize o bom e seguro uso da internet e na formação de terapeutas capazes de lidar e ajudar jovens/adultos que desenvolvam este tipo de adições e comportamentos de “risco digital”.

As dúvidas não podem existir, na necessidade de “assistir”, sentir e conhecer este fenómeno global pois não há quase nada que não more “apanhado” na rede.

Apelo a uma discussão directa às questões levantadas no corpo da reflexão. Mostrem a vossa opinião neste espaço, para que a mesma possa ser partilhada.

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This entry was posted on 27 de Setembro de 2011 by in Uncategorized.

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